Meu filho não come: e agora?
Nos consultórios de pediatras e nutricionistas ouve-se frequentemente a frase - “Doutor, meu filho não come”. Dados norte-americanos mostram que 10 a 25% das crianças possuem algum transtorno alimentar. Sendo que um dos mais frequentes distúrbios alimentares é a seletividade alimentar, que ainda não possui uma definição uniforme. Mas, geralmente é caracterizada pela tríade: recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento.
Para que o diagnóstico de seletividade alimentar seja fidedigno, deve-se investigar as seguintes situações que também provocam a recusa alimentar:
- Anorexia fisiológica – geralmente ocorre entre 6 e 12 meses de idade e pode durar cerca de 4 a 5 anos. Período no qual a criança apresenta uma diminuição do apetite, devido à desaceleração no seu crescimento. Ocorre também um desinteresse pelo alimento, pois este é substituído pelas novidades e descobertas que a criança faz no meio ambiente. Além disso, a criança não apresenta alteração do estado nutricional.
- A anorexia infantil ou anorexia verdadeira – observada quando a criança não consome, de maneira espontânea, uma quantidade de alimentos suficiente para manter adequado seu crescimento e desenvolvimento. A aceitação alimentar pode ser prejudicada por desordens orgânicas ou comportamentais. As principais causas da anorexia verdadeira são: parasitoses intestinais, infecções, deficiências de vitaminas e/ou minerais, transtornos metabólicos e do sistema nervoso, problemas gastrintestinais (intolerâncias, alergias, refluxo, desnutrição, vômito e diarréia), problemas no ambiente familiar, desmame e introdução de alimentos de forma incorreta, falta de rotina, monotonia alimentar (todo dia a mesma preparação), preparações inadequadas (fria ou muito quente, sem tempero, odor forte...) entre outras causas.
- Falsa anorexia - situação na qual os familiares julgam que a criança não come, no entanto a mesma não apresenta déficits de crescimento ou desenvolvimento.
- Pseudo-anorexia - caracterizada pela recusa alimentar determinada por dificuldade de mastigação e/ou deglutição (engolir), presença de aftas, fissura palatina (céu da boca), estomatite (inflamações), dores dentárias ou outras condições que provoquem dor e sofrimento.
- Seletividade alimentar ou anorexia seletiva - a criança apresenta recusa total ou parcial a determinado(s) tipo(s) de alimento(s). Considera-se como criança seletiva a que apresenta oscilações na preferência e aceitação dos alimentos, principalmente no que se refere a resistência em experimentar novos tipos e preparações (neofobia) e apesar do bom estado nutricional, gera muitas preocupações em pais e responsáveis. A seletividade somente é preocupante quando envolve a recusa de uma grande quantidade de alimentos e, consequentemente, a ingestão insuficiente de um grande número de nutrientes que podem provocar patologias se ocorrer de forma prolongada. Os alimentos mais rejeitados são verduras, legumes e frutas.
É importante levar em consideração que cada caso de seletividade alimentar tem suas peculiaridades, requer orientação individualizada, de acordo com as particularidades da criança, da família e do meio. Todos os fatores determinantes da seletividade da criança têm seu impacto nutricional avaliado adequadamente através da ação do pediatra e do nutricionista. Em casos mais graves a assistência psicológica especializada, também se torna fundamental para o tratamento, já que muitos problemas alimentares decorrem de conflitos intra familiares.
Fonte: Kachani AT, et al. Seletividade Alimentar da Criança. Pediatria (São Paulo), 2005;27(1):48–60
Nutricionista Bruna Alves Pereira
Atendimento nutricional infantil
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